sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Sucesso as vezes e saber reconhecer!

ENTENDER DE GENTE - Max GehringerDurante minha vida profissional, eu topei com algumas figuras cujo sucesso surpreende muita gente. Figuras sem um vistoso currículo acadêmico, sem um grande diferencial técnico, sem muito networking oumarketing pessoal.Figuras como o Raul. Eu conheço o Raul desde os tempos da faculdade. Naépoca, nós tínhamos um colega de classe, o Pena, que era um gênio. Nahora de fazer um trabalho em grupo, todos nós queríamos cair no grupo doPena, porque o Pena fazia tudo sozinho. Ele escolhia o tema, pesquisavaos livros, redigia muito bem e ainda desenhava a capa do trabalho - comtinta nanquim.Já o Raul nem dava palpite. Ficava ali num canto, dizendo que seu papelno grupo era um só, apoiar o Pena. Qualquer coisa que o Pena precisasseo Raul já estava providenciando, antes que o Pena concluísse a frase.Deu no que deu. O Pena se formou em primeiro lugar na nossa turma. E oresto de nós passou meio na carona do Pena - que, além de nos dar umacolher de chá nos trabalhos, ainda permitia que a gente colasse dele nasprovas. No dia da formatura, o diretor da escola chamou o Pena de'paradigma do estudante que enobrece esta instituição de ensino'. E oRaul ali, na terceira fila, só aplaudindo.Dez anos depois, o Pena era a estrela da área de planejamento de umamultinacional. Brilhante como sempre, ele fazia admiráveis projeçõesestratégicas de cinco e dez anos. E quem era o chefe do Pena?O Raul. E como é que o Raul tinha conseguido chegar àquela posição?Ninguém na empresa sabia explicar direito. O Raul vivia repetindo quetinha subordinados melhores do que ele, e ninguém ali parecia discordarde tal afirmação. Além disso, o Raul continuava a fazer o que fazia naescola, ele apoiava. Alguém tinha um problema? Era só falar com o Raulque o Raul dava um jeito. Meu último contato com o Raul foi há um ano.Ele havia sido transferido para Miami, onde fica a sede da empresa.Quando conversou comigo, o Raul disse que havia ficado surpreso com oconvite. Porque, ali na matriz, o mais 'burrinho' já tinha sidoastronauta. E eu perguntei ao Raul qual era a função dele. Perguntainócua, porque eu já sabia a resposta.O Raul apoiava. Direcionava daqui, facilitava dali, essas coisas que, nateoria, ninguém precisaria mandar um brasileiro até Miami para fazer.Foi quando, num evento em São Paulo , eu conheci o vice-presidente derecursos humanos da empresa do Raul. E ele me contou que o Raul tinhauma habilidade de valor inestimável:... ele entendia de gente. Entendiatanto que não se preocupava em ficar à sombra dos próprios subordinadospara fazer com que eles se sentissem melhor, e fossem mais produtivos.E, para me explicar o Raul, o vice-presidente citou Samuel Butler, queeu não sei ao certo quem foi, mas que tem uma frase ótima: "Qualquertolo pode pintar um quadro, mas só um gênio consegue vendê-lo".Essa era a habilidade aparentemente simples que o Raul tinha, defacilitar as relações entre as pessoas. Perto do Raul, todo compradornormal se sentia um expert, e todo pintor comum, um gênio.É praticamente uma lei na vida que quando uma porta se fecha para nós,outra se abre. A dificuldade está em que, freqüentemente, ficamosolhando com tanto pesar a porta fechada, que não vemos aquela que se abriu.